Pedetista mirou pivôs da polarização eleitoral e enumerou propostas
Um dos principais momentos do candidato do PDT à Presidência da República Ciro Gomes no debate da Band, na noite desse domingo (28), foi o embate entre ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tentou reduzir a animosidade com Ciro, insinuando a possibilidade de aliança entre os dois em um eventual segundo turno.
O pedetista também protagonizou embate com o presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre machismo, ao questionar a postura do candidato à reeleição com as mulheres presentes e ao responder sobre suas falas do passado.
Aliança com Lula
Ciro tentou manter distância do ex-presidente Lula, afirmando inclusive que o petista é “encantador de serpentes”. Lula havia afirmado que tem “profundo respeito por Ciro Gomes”. “Sou grato a Ciro Gomes, que esteve no governo comigo, de 2003 a 2006, mas o Ciro neste instante Ciro resolveu não estar conosco e sair com candidatura própria, é um direito dele”
O petista, então, disse que ainda quer “conversar com Ciro”. “Tem três pessoas no Brasil que eu trato com deferência, Mario Covas, [Roberto] Requião e Ciro Gomes. De vez em quando eles podem até falar mal de mim, que eu não levo em conta, porque eu sei que eles têm o coração mais mole do que a língua”, disse, em enquanto Ciro observava e sorria.
Ao que Lula lembrou de quando Ciro viajou a Paris durante o segundo turno das eleições de 2018, quando Fernando Haddad (PT) disputava a presidência com Jair Bolsonaro. “Espero que o Ciro fique aqui no Brasil, que a gente sente para conversar e possa construir a verdadeira aliança política que ele sabe que vai ser construída”, pontuou.
A resposta de Ciro foi incisiva. “O Lula, esse encantador de serpentes, vai na emoção das pessoas, cativa, mas nós temos relação bastante antiga e ele quer sempre levar a coisa para o lado pessoal. Não é pessoal. Eu atribuo ao Lula, a contradição econômica do Lula, a contradição moral do Lula e do PT, o Bolsonaro. Eu não acho que Bolsonaro desceu de Marte com essas contradições todas. Bolsonaro foi um protesto absolutamente reconhecido respeitosamente por mim contra a devastadora crise econômica que o Lula e o PT produziram”, criticou.
O pedetista concluiu a resposta justificando seu distanciamento de Lula. “A média de crescimento do PT é medíocre. É igualzinho ao do Fernando Henrique Cardoso. O desemprego que está aí de 10%, o Bolsonaro recebeu com 12%, do PT. E a razão do meu distanciamento é infelizmente que o Lula se deixou corromper mesmo. Está com Gedel Vieira Lima, com Renan Calheiros, com Eunício Oliveira. Pesquise quem são essas pessoas”, sugeriu.
Ciro x Bolsonaro
Ciro também manteve críticas, quase onipresentes em seus comentários, ao governo do presidente Jair Bolsonaro, mas o principal embate foi sobre machismo.
Após Bolsonaro usar seu tempo para atacar a jornalista Vera Magalhães e a senadora Simone Tebet, durante uma das respostas, dizendo que a jornalista “é uma vergonha para o jornalismo brasileiro” e que a senadora “foi conivente com a corrupção na CPI”, Ciro disse que quer “reconciliar o País”.
“Quero reconciliar o Brasil. Enquanto houver esse nível de agressividade. Isso vai produzir coisa que o Brasil não merece. Precisamos reconciliar o Brasil. Brigam para valer, mas patrocinam o mesmo modelo econômico e de governança onde a corrupção e fisiologia são o mesmo modelo”, disse.
Ciro Gomes disse que Bolsonaro corrompeu as mulheres com quem já foi casado e relembrou quando Bolsonaro chamou a filha mais nova de “fraquejada”.
Bolsonaro rebateu: “Você falou que a missão mais importante de tua esposa [Patrícia Pillar) era dormir contigo. Pelo amor de Deus, Ciro. Peço que você peça desculpas também aí”.
O candidato do PDT disse que a frase ocorreu há 20 anos: “Já me desculpei por isso um milhão de vezes e isso é de se desculpar a vida inteira. Não é disso que estou falando, Bolsonaro. Estou falando da sua falta de escrúpulo. Você corrompeu todas suas ex-esposas, todas envolvidas em escândalos. Você corrompeu seus filhos”.
Debate
Ciro chegou à Band na noite desse domingo (28) acompanhado de Ana Paula Matos, candidata de sua chapa à vice-presidência, dizendo que apresentaria no debate presidencial um novo modelo econômico e de governança para o País.
O ex-governador do Ceará, ex-ministro e advogado, de 64 anos, também fez críticas aos governos de Lula e Bolsonaro, dando o tom de como seria sua participação no evento.
“O que precisa mudar no Brasil exige que nós concertemos uma nova cumplicidade com o povo brasileiro. Não vamos sair desses 11 anos de estagnação econômica, de modelo que trouxe a corrupção ao centro do modelo – tanto o partido encarnado quanto partido azul é a mesma coisa, mesma gente – se nós não trouxermos o povo lucidamente, conscientemente, com a inteligência e não com lambanças emocionais que servem para incitar gente na véspera da eleição e depois fica o trago amargo da decepção”, disse.
Propostas
Ciro também disse que tinha uma boa relação com os concorrentes e que aproveitaria a oportunidade para listar suas propostas.
“Olha, eu sou uma pessoa muito treinada, conheço todos eles praticamente, com boa relação. E o meu objetivo é apresentar as minhas ideias. Tenho ideias bastantes estudadas para criar um programa de renda mínima de R$ 1 mil que elimina a pobreza absoluta no Brasil e digo de onde vem o dinheiro. Eu tenho um programa que é a Lei Anti-Ganância que vai determinar a quitação por lei de todas as dívidas de empréstimos pessoais do cidadão que tomou cem para não pagar o dobro. Fica quitado por lei. Quero transformar a educação pública brasileira em uma das dez melhores do mundo em 15 anos, como o Ceará fez sendo a melhor educação do Brasil. E quero prometer dizendo concretamente de onde vem 5 milhões de empregos nos dois primeiros anos do meu governo. Se eu tiver essa chance, ficarei feliz ao sair do debate”, concluiu.
O pedetista afirmou que o País está “doente” e que precisa de um diagnóstico. “Fundamentalmente, nós precisamos localizar o problema. Essa é a tarefa, quando a gente pega um corpo doente, tem que diagnosticar a doença, senão não tem remédio ou cirurgia que conserte o corpo doente. E o Brasil hoje é um corpo social e econômico muito doente. Muito doente mesmo. Há 11 anos nós não crescemos praticamente nada. Três [anos] são do Bolsonaro e oito são do Lula e do PT. Se a gente não entender isso para além do diagnóstico, nós não vamos conseguir a terapia. E a terapia é mudar o modelo econômico e o modelo de governança política”, pontuou.
(band)(uol)