O incômodo crescente com a postura do candidato a vice-governador na chapa do PT e presidente da Câmara de Vereadores de Salvador, Geraldo Júnior (MDB), está por trás da decisão de exclui-lo de quase toda a agenda de campanha no interior e limitar a atuação do emedebista à capital. Oficialmente, a cúpula da campanha do petista Jerônimo Rodrigues atribuiu a determinação, anunciada ontem, à tática voltada a fortalecer o candidato do partido ao governo baiano em Salvador. Agora, Geraldo Júnior só viajará com a comitiva governista nos eventos considerados fundamentais pelo andar de cima. No entanto, líderes da base aliada garantem que as restrições têm origem no mal-estar causado pelo vice.
Fato consumado
O desconforto de cardeais petistas e coordenadores da campanha de Jerônimo em relação a Geraldo Júnior já havia sido relevado pela Satélite em 14 de julho. À época, as queixas eram dirigidas à busca excessiva por protagonismo e à forma com a qual impõe a presença nos eventos pelo interior.
Cada um por si
O freio aplicado no presidente da Câmara de Vereadores foi traduzido por políticos de partidos da base governista e da oposição como sinal claro de que a chapa majoritária encabeçada pelo PT entrou no modo “salve-se quem puder”. Ou seja: Jerônimo é obrigado a defender o legado do padrinho, Rui Costa, mesmo em áreas onde o governador obteve mau desempenho; o senador Otto Alencar (PSD) pensa apenas em renovar o mandato; o coordenador-geral da campanha, o ex-prefeito de Camaçari Luiz Caetano, destina boa parte do tempo à missão de eleger a esposa, Ivoneide Caetano (PT), deputada federal; e o número dois da chapa, Geraldo Júnior, quer aparecer mais que o número um e se dedica exclusivamente em assegurar a vitória do filho, Matheus Ferreira (MDB), na corrida para deputado estadual.
Além da realidade
A desculpa usada para retirar Geraldo Júnior da agenda no interior causou estranheza em parlamentares sem espaço no núcleo-duro da base. Em geral, acham que se o objetivo fosse alavancar Jerônimo em Salvador, onde o petista patina, não seria um vereador que teve 12 mil votos em 2020 o nome certo para a função.
Bola de cristal
Como é impossível adivinhar o resultado da pesquisa do Datafolha sobre a sucessão estadual, prevista para ser divulgada hoje à tarde pelo Grupo Metrópole, há somente uma explicação para a ofensiva judicial lançada ontem pela coligação do PT na tentativa de impugnar a sondagem: o receio de que os números sejam muito desfavoráveis a Jerônimo no duelo com o ex-prefeito ACM Neto (União Brasil), com base no cenário desenhado pelos próprios levantamentos internos.
Lei do retorno
Para piorar, o tiro do PT contra o Datafolha voltou pela culatra. A Justiça proibiu só a divulgação das intenções de voto para a Presidência, justamente a parte da pesquisa onde a vantagem folgada do ex-presidente Lula é a única certeza.
Jairo Costa Júnior / correio