A vitória eleitoral de Lula obriga a uma revisão das relações com a União Europeia.
A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva , 77, foi estreita, mas indubitável. Com 50,9% dos votos, o político de esquerda reconquistou a presidência do Brasil.
Lula quer renegociar o acordo de livre comércio com a União Européia , que está quase pronto para ser assinado. Uma das chaves é proteger o meio ambiente.
Por outro lado, os analistas aguardam para ver quem determinará a política econômica do país no futuro. “A definição da equipe de economistas enviará uma mensagem importante aos mercados”, comentou o jornal Estadão.
Quanto à Europa, Lula sinalizou disposição para negociar, mas deixou claro que o acordo de livre comércio UE-Mercosul, que está prestes a ser assinado, terá que ser renegociado: “Não temos interesse em acordos comerciais que condenam nosso país a o eterno papel de exportador de bens e matérias-primas.”
A reindustrialização do Brasil
O professor Roberto Goulart Menezes, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), expressou opinião semelhante: “O futuro governo Lula deve reavaliar os termos do acordo entre Mercosul e União Europeia com foco na questão da indústria Na opinião de Goulart Menezes, “Lula deve tentar avançar junto com o Mercosul e desenvolver uma linha própria para que o tratado seja mais equilibrado”.
Agora, o maior obstáculo foi superado com a eleição de Lula: “O ponto central que impedia a homologação pela União Européia será superado: a área ambiental”, acrescenta Goulart Menezes. Durante a campanha eleitoral, Lula havia prometido uma estratégia de desmatamento zero na floresta amazônica, uma referência que nenhum governante brasileiro ainda conseguiu alcançar. Tanto a UE como o governo alemão apresentam padrões ambientais verificáveis como pré-requisito para a ratificação do acordo. Goulart Menezes afirma que Lula mantém um intercâmbio ativo com os governos da França e da Alemanha.
O agronegócio brasileiro deve assumir responsabilidades
Mas não basta repensar na cúpula do futuro governo brasileiro. “O agronegócio brasileiro deve apoiar as medidas ambientais do novo governo. E Lula deve separar os agronegócios destrutivos, que desmatam a Amazônia e outros ecossistemas, daqueles que respeitam as normas trabalhistas e ambientais”, exige Goulart Menezes.
O setor do agronegócio precisa urgentemente ser envolvido na articulação que o governo Lula busca com a União Européia. A China, maior parceiro comercial do Brasil, cooperaria com o novo governo e ajudaria na transição energética. “Acredito que Lula trará de volta a ex-ministra do Meio Ambiente Mariana Silva para acabar com o isolamento global do Brasil”, diz o professor Goulart Menezes.
O que os brasileiros querem
Em seu discurso após a vitória, Lula lembrou o que os brasileiros querem: “Viver, comer e ter uma boa casa”. Além de bons empregos, eles querem um salário que cresça acima da inflação e saúde pública e educação de qualidade.
Lula pode contar com uma base sólida para seu plano: tanto a indústria agroalimentar internacionalmente controversa quanto a petrolífera semiestatal Petrobras tiveram lucros recordes recentemente.