O problema se originou no ano passado, quando o México começou a exigir visto de turista para qualquer brasileiro que viajasse ao país, já que o país latino da América do Norte não tem conseguido fiscalizar a entrada de cidadãos chegando dos países ao sul e foi pressionado pelos EUA para conter a onda de imigração ilegal.
Apesar da medida, o governo brasileiro não tomou medida recíproca e continua não exigindo visto de turistas mexicanos para visitar o Brasil, ao contrário do que fez recentemente com os EUA, Japão, Austrália e Canadá.
Desta maneira, os viajantes brasileiros que quiserem ir para o México deverão pagar $51 dólares (R$250) e agendar o visto em um consulado específico de acordo com a cidade onde ele mora. Este processo tem sido alvo de reclamações por ser burocrático, com um site ruim e pouco explicativo.
As isenções são para cidadãos brasileiros que possuem visto americano, canadense, japonês ou europeu, ou aqueles que estiverem em conexão pela Cidade do México, que é de onde agora surgiram as reclamações.
Ontem, um passageiro informou ao AEROIN que foi muito mal-tratado na conexão, e que foi colocado em uma pequena sala, com apenas um banheiro em péssimas condições, quando fazia uma conexão de 6 horas no México em direção a Madri, tendo saído do Brasil.
A regra para conexão é que o passageiro não saia do aeroporto e que não fique no país por mais de 24 horas, mas, para evitar qualquer tipo de “fuga”, os mexicanos estão retendo o passaporte e deixando em uma sala os brasileiros em conexão, que foi apelidada de “chiqueirinho”.
O advogado Renan Feroldi Fortes relatou ao AEROIN que uma cliente, que foi para Paris via México, também passou por este problema na conexão:
Tenho um caso de uma cliente exatamente igual. Passagem comprada na 123 Milhas com destino à Paris. Havia conexão no México sem minha cliente tomar ciência dessa conexão com antecedência. Ela ficou presa nessa sala tanto na ida, quanto na volta, e a 123 milha se fingiu de boba.
— Renan Feroldi Fortes (@renanfortesadv) May 10, 2023
O problema maior tem sido com passageiros que vão para o Japão, país que tem uma grande comunidade de cidadãos e descendentes no Brasil. A estes, inclusive, tem sido cobrada indevidamente uma taxa de $70 dólares pela Aeroméxico, ainda em Guarulhos. Já outros passageiros relataram que alguns funcionários têm informado erroneamente que é necessário visto mexicano, mesmo eles estando em conexão e/ou tendo o visto japonês válido.
Em situações similares em outros países, onde não é exigido visto desde que fique na área de embarque, não existe segregação de passageiros e recolhimento de passaportes, já que na saída de toda área internacional existe controle alfandegário.
O site ReclameAqui acumula várias reclamações sobre a Aeroméxico, principalmente sobre cobrança indevida e mau tratamento:
Além de tudo, no site da Aeroméxico é informado sobre a detenção na referida sala, incluindo o aviso de que não há nenhuma infraestrutura ao passageiro:
“Caso o passageiro não possua os vistos acima indicados, seu passaporte será retido pela Polícia Federal do México e o passageiro será acompanhado da aeronave à sala de imigração e da sala de imigração ao embarque para o destino final, oportunidade em que o passaporte será devolvido.
A sala de imigração é de responsabilidade da Polícia Federal do México e do aeroporto internacional da cidade do México, tendo estrutura física limitada e não havendo estandes para compra de alimentos/bebidas. Após entrada na sala de imigração, o celular do passageiro será retido e não haverá acesso à internet, sendo que o passageiro somente sairá dessa sala diretamente para o embarque.”
Turismo para o México diminuiu
Após a exigência do visto, o fluxo de brasileiros indo para o México caiu drasticamente, principalmente devido à burocracia para emissão do visto mexicano, que para muitos é quase tão grande quanto dos EUA.
O CEO da Flapper, plataforma de fretamento de voos, informou alguns dados em seu LinkedIn sobre o prejuízo causado pela volta da exigência do visto.
Segundo Paul Malicki, o número de brasileiros visitando o México está 60% menor hoje, causando um prejuízo de $1 bilhão de dólares para empresas do setor e, consequentemente, redução de 15% nos voos. Um exemplo é a rota direta para Cancún, feita por Aeroméxico, LATAM e GOL, geralmente feita na alta temporada, mas que foi descontinuada.
“Nove meses do visto mexicano – vamos analisar os resultados: – Queda de 60% de turistas brasileiros; – Perda de $1B em faturamento com turismo; – Queda de 15,2% em operações aéreas; – Aumento de ticket médio para os EUA por falta de conectividade; – Aumento de gasto médio com turismo para turistas brasileiros em Caribe (México constituiu uma alternativa mais em conta); – Aumento de inegualidade social; agora os receptivos tiveram que apostar no público de luxo; – Inúmeros negócios perdidos. Tudo isso graças a uma taxa de US$ 48 e um processo burocrático mal-desenhado. Quem ainda defende a política de reciprocidade e apoia a introdução do visto americano tem que voltar à escola, se reeducar. Ou tomar mais leite. O alto desenvolvimento social que o mundo atingiu no século XX foi graças a globalização – e não ao isolamento sócio-econômico (good job, Albânia e Corea do Norte). As Américas deverão estar mais unidas e gerar mais negócios entre si. Não existe um outro caminho.”
O AEROIN entrou em contato com o Itamaraty para um posicionamento acerca das reclamações dos viajantes brasileiros, assim como do fator reciprocidade que não está sendo aplicado com os mexicanos. Esta reportagem será atualizada assim que o Ministério das Relações Exteriores responder.