Evento foi realizado na manhã desta terça-feira, 23, no Centro de Cultura da Câmara
A mudança do circuito do Carnaval da Barra para a Boca do Rio foi tema da audiência pública realizada na última terça-feira (23). A atividade requerida pelo presidente da Comissão de Cultura, vereador Sílvio Humberto (PSB), no Centro de Cultura da Câmara, ouviu durante toda a manhã as reivindicações e posicionamentos de organizações, moradores, fazedores culturais, representantes de blocos e sociedade civil.
Mesmo com a declaração de manutenção do circuito Barra-Ondina pela Prefeitura, a atividade foi mantida com o objetivo de assegurar o amplo debate e levou em consideração “os impactos sociais, econômicos e culturais que ocorrerão com a possível transferência”. O vereador ressaltou que a decisão da gestão municipal, inclusive a notada ausência na audiência, não coloca um ponto final no debate.
“É uma boa oportunidade de continuar discutindo essa mudança que gerou uma comoção pela forma polêmica, sem diálogo e autoritária em que foi construída. O carnaval é um movimento que não está apenas submetido ao aspecto mercadológico, é uma cultura que mexe com a coletividade, com a vida das pessoas, então realizar essa audiência é exercício de cidadania entre as partes envolvidas. Escutar é se importar e, sobretudo, respeitar”, disse o vereador.
Opiniões
Entre os pontos trazidos destacam-se a defesa da permanência do circuito tradicional pelo SOS Carnaval, movimento formado por empresários, músicos, compositores, moradores da região da Barra e Ondina, além de representantes de blocos tradicionais e afro.
“Temos um abaixo assinado com cerca de oito mil assinaturas em oposição à alteração. Também apresentamos os pontos negativos e apontamos soluções. Entendemos que investir no Campo Grande é um caminho para minimizar os problemas, como a intercalação de trios maiores com trios menores, o que permitirá melhor mobilidade de pedestres e veículos de forma escalonada”, sugeriu Maurício Laukenickas.
Waltson Campos, dirigente da Associação Ama Barra, exibiu um vídeo sobre as consequências para o respectivo bairro e informou que desde 2013 se coloca na luta em discordância ao modelo de infraestrutura adotado pela Prefeitura na organização da folia momesca, inclusive já com ação no Ministério Público do Trabalho.
“A Barra sofre um impacto ambiental e social muito grande. Não somos contrários à festa; queremos um modelo de Carnaval sustentável para a cidade, que atente para a falta de dignidade com que os permissionários e os invisíveis são tratados, com o dano ao patrimônio, com a destruição do parque marinho da Barra. São 4 milhões de pessoas em um bairro sem capacidade para comportar esse contingente”, afirmou
Sílvio Humberto ressaltou que essa desatenção do poder público não decorre apenas no período carnavalesco, por isso Salvador tem se tornado uma cidade social e racialmente desigual.
Também presente ao evento, o presidente do Olodum, João Jorge, em nome do grupo declarou posição contrária à migração e fez uma análise histórica da relação excludente com que Barra sempre buscou afastar a grande população.
“O Bloco Olodum emitiu um documento explicando porquê não comunga com a mudança e, dentre elas estão a falta de transparência do projeto e o fato da mudança ocorrer no retorno de uma pandemia sem amplos debates. Também tem o fato do Olodum, primeiro bloco afro a desfilar na Barra, com repercussão mundial e mesmo tendo contribuído para visibilidade da cidade sofrer com a histórica perseguição pelo simples fato de levar a massa negra para a região. Os moradores da Barra precisam ter consciência que vivem em uma cidade, e não em um bairro proibido de propriedade de um grupo de indivíduos. A Barra não pode ser intocável”, argumentou.
Também compuseram a mesa da audiência o gestor cultural e criador do Projeto DNA Dodô, Carlinhos Dodô; o vice-presidente da Comissão de Direitos Culturais e Entretenimento da OAB, Daniel Garzedin; e Heloísa Novaes, do Conselho Comunitário Social de Segurança do Rio Vermelho e Ondina. Convidados para a mesa, representantes do Comcar e da Saltur não compareceram ao evento.
Sílvio encerrou a mesa destacando a importância de escutar as diversas visões sobre a cidade, e criticando a ausência da Prefeitura em um debate criado por ela mesma.
A audiência pode ser vista, na íntegra, no Facebook/@tveradiocam