Ex-juiz Sergio Moro fala à DW sobre sua reaproximação com o bolsonarismo e diz que os protestos devem servir de alerta para o próximo governo Lula.
Ex-juiz federal, ex-ministro, ex-consultor e ex-candidato à presidência, Sergio Moro estreia em 2023 uma nova função: a de senador pelo estado do Paraná. Como juiz, Moro liderou a investigação da operação Lava Jato , mas parte de suas decisões foram posteriormente anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo a condenação de Luiz Inácio Lula da Silva.
Moro também havia se distanciado de Jair Bolsonaro, de quem foi ministro , mas depois que sua própria candidatura presidencial fracassou e conquistou uma cadeira no Senado, o assessorou na campanha para o segundo turno das eleições, na qual foi derrotado por Lula.
DW: Em janeiro, quando ainda era candidato à presidência, você disse que “eleger Lula ou Bolsonaro” seria “suicídio”. Meses depois, assessorou Bolsonaro em debates. Por que você se aproximou do presidente novamente?
Sergio Moro: Desde o início, me posicionei como defensor da terceira via e apresentei uma candidatura presidencial, porque acho que a polarização é negativa para o país e leva ao radicalismo. É necessária uma posição moderada e central. Mas não era viável, não só a minha candidatura, mas também outras de terceira via. Então, no segundo turno, tínhamos duas opções: Bolsonaro e Lula. (…) Tendo que escolher, fiquei do lado do presidente Bolsonaro. Não mudei de opinião sobre o passado, mantenho as razões do meu rompimento com o Governo. Mas, dentro das opções disponíveis, achei a candidatura do Bolsonaro a melhor.
Como ele vai agir com Lula como presidente?
eu serei oposição Claro que não será uma oposição irracional. Não vamos rejeitar o que achamos bom para o país só porque vem de um governo ao qual nos opomos.
Agora, está claro que não vejo que venham propostas daquele governo na área anticorrupção. Então pretendo ser um senador vigilante. Um pouco na linha de guardião da República, como deve ser o Senado.
O que você acha dos protestos de Bolsonaro que não reconhecem o resultado eleitoral?
Acredito que esses protestos revelam um grande descontentamento com os resultados eleitorais e uma oposição à proposta do PT para o país. Quem ganhou, no final das contas, não foi tanto o PT, mas essa rejeição ao governo Bolsonaro, que também fez algumas coisas boas, é preciso destacar. A economia não estava exatamente ruim, o desemprego estava caindo, mas houve uma série de decisões que acabaram prejudicando a reeleição.
Essas manifestações, desde que sejam pacíficas —embora não concorde com algumas coisas, como os bloqueios— revelam essa insatisfação. Faz parte da democracia que as pessoas possam protestar. As manifestações devem ser interpretadas de forma adequada, no sentido de alertar o novo governo de que exigirá cautela, prudência e terá que buscar posições moderadas, já que há grande oposição e insatisfação popular quanto ao resultado das eleições.
Fonte.DW